domingo, 6 de mayo de 2007

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Reflexões de Fidel Castro: O que se impõe de imediato é uma Revolução
Energética

Havana, 01.05.07 (acn)Reflexões de Fidel Castro: O que se impõe de
imediato é uma Revolução Energética

Nada me anima contra o Brasil. Para não poucos brasileiros que não
cessam de martelar argumentos sobre uma coisa ou outra, capazes de
confundir as pessoas tradicionalmente amigas de Cuba, pareceríamos
inconvenientes, aos que não lhes importa prejudicar a receita íntegra
de moeda estrangeira desse país. Para mim, guardar silêncio seria optar
entre a idéia de uma tragédia mundial e um suposto benefício para o
povo dessa grande nação. Não culparei Lula nem os brasileiros pelas
leis objetivas que regeram a história de uma espécie. Apenas
transcorreram sete mil anos desde que o ser humano deixou rastos
palpáveis do que chegou a ser uma civilização imensamente rica em
cultura e conhecimentos técnicos. Seus avanços não foram logrados ao
mesmo tempo, nem no mesmo lugar da geografia. Pode se afirmar que
devido à aparente imensidade de nosso planeta, em muitos casos não se
conhecia a existência de uma ou outra das civilizações. Jamais, durante
milhares de anos o ser humano viveu em cidades de vinte milhões de
habitantes como São Paulo ou Cidade de México, ou em comunidades
urbanas como Paris, Madrid, Berlim e outras que vêm transitarem trens
sobre estradas de ferro e colchões de ar a velocidades de mais de 400
quilômetros por hora. Na época de Cristóvão Colombo há apenas 500 anos,
algumas dessas cidades não existiam ou suas populações não
ultrapassavam a cifra de varias dezenas de milhares de habitantes.
Nenhuma consumia um quilowatt para iluminar seus lares. Talvez,
naquela altura, a população do mundo não ultrapassava os 500 milhões
de habitantes. Sabe-se que em 1830 alcançou o primeiro bilhão (109),
cento e trinta anos depois se triplicou, e quarenta e seis anos mais
tarde a soma dos habitantes do planeta elevou-se a 6,5 bilhões, na
imensa maioria pobres, que devem partilhar os produtos alimentares com
os animais de estimação e de agora em diante com os biocombustíveis.
Então a humanidade não contava com os avanços da computação e os meios
de comunicação atingidos atualmente, embora já tivessem explodido as
primeiras bombas atômicas sobre duas grandes comunidades humanas, o que
constituiu um terrível ato de terrorismo contra a população civil
indefesa, por razões estritamente políticas. Hoje o mundo conta com
dezenas de milhares de bombas nucleares cinqüenta vezes mais poderosas,
com portadores várias vezes mais velozes do que o som e de uma precisão
absoluta, com as quais nossa sofisticada espécie pode
auto-destruir-se. No fim da segunda Guerra Mundial que livraram os
povos contra o fascismo, surgiu um novo domínio que se apoderou do
mundo e impôs a atual ordem absolutista e cruel. Antes de viajar Bush
ao Brasil, o chefe do império estabeleceu que o milho e outros
alimentos seriam a matéria-prima requerida para produzir
biocombustível. Por sua vez Lula declarou que a partir da
cana-de-açúcar, o Brasil poderia fornecer o que for preciso; via nessa
fórmula o porvir para o Terceiro Mundo e o único problema pendente de
solucionar seria melhorar as condições de vida dos trabalhadores
canavieiros. Estava consciente mesmo, e assim o declarou, que os
Estados Unidos da América, pela sua parte, deviam suspender as
barreiras alfandegárias e os subsídios que afetam a exportação do
etanol aos Estados Unidos da América. Bush respondeu que as tarifas e
os subsídios dos agricultores seriam intocáveis em um país como os
Estados Unidos da América, primeiro produtor mundial de etanol a base
de milho. As grandes multinacionais norte-americanas produtoras desse
biocombustível, que investem aceleradamente dezenas de bilhões de
dólares, exigiram do chefe do Império a distribuição no mercado
norte-americano de não menos de trinta e cinco bilhões (359) de galões
desse combustível, anualmente. Entre tarifas protetoras e subsídios
reais a cifra por ano seria de quase 100 bilhões de dólares. Insaciável
em sua demanda, o Império tinha lançado ao mundo a palavra de ordem de
produzir biocombustíveis para liberar aos Estados Unidos da América, o
maior consumidor mundial de energia, de qualquer dependência exterior
em matéria de hidrocarbonetos. A história demonstra que a mono-cultura
canavieira esteve ligada estreitamente à escravidão dos africanos,
arrancados pela força de suas comunidades naturais e deslocados para
Cuba, Haiti e outras ilhas do Caribe. No Brasil aconteceu exatamente
igual com a cultura da cana-de-açúcar. Hoje nesse país quase o 80% da
cana é cortada manualmente. Fontes e estudos oferecidos por
pesquisadores brasileiros afirmam que um cortador de cana-de-açúcar,
trabalhador por conta própria, deve produzir não menos de doze
toneladas para satisfazer as necessidades elementares. Esse
trabalhador precisa flexionar suas pernas 36,630 vezes, percorrer
pequenas distâncias 800 vezes carregando 15 quilogramas de
cana-de-açúcar nos braços e caminhar durante sua faina 8,800 metros.
Perde uma média de 8 litros de água por dia. Só na cana queimada se
pode alcançar essa produtividade por homem. É costume queimar a cana
de corte manual ou mecanizado para proteger o pessoal de mordidas ou
picadas prejudiciais, sobretudo para elevar a produtividade. Embora
exista uma norma estabelecida em um horário de 08h00 até 17h00 para
realizar sua tarefa esse corte por peças não é menos de 12 horas de
trabalho. Às vezes a temperatura atinge os 45 graus centígrados ao
meio-dia. Eu, pessoalmente, já cortei cana-de-açúcar por um dever
moral, do mesmo jeito que outros muitos companheiros dirigentes do
país. Lembro-me do mês de agosto de 1969. Escolhi um lugar próximo à
capital. Deslocava-me bem cedo todas as manhãs para esse lugar. A
cana não queimada era verde, de variedade jovem e alto rendimento
agrícola e industrial. Não parava um minuto durante quatro horas
consecutivas. Alguém se encarregava de afiar o facão. Nunca deixei
de produzir, no mínimo, 3,4 toneladas por dia. Depois tomava um banho,
almoçava, sossegava mente e repousava em um lugar próximo. Ganhei
vários reconhecimentos pela famosa colheita do ano 70. Tinha recém
completado 44 anos. O resto do tempo até a hora de dormir, o dedicava a
meus deveres revolucionários. Parei de fazer aquele esforço pessoal
quando me fiz uma ferida no pé esquerdo. O afiado facão penetrara na
bota protetora. O objetivo nacional era atingir os 10 milhões de
toneladas de açúcar e 4 milhões de toneladas de melaço,
aproximadamente, como subproduto. Nunca foi atingida aquela cifra,
apesar de termos nos aproximado. A URSS não tinha desaparecido, parecia
algo impossível. O período especial, que nos levou a uma luta de
superveniência e as desigualdades econômicas com seus inerentes
elementos de corrupção, ainda não tinham surgido. O imperialismo
pensou que havia chegado a hora de acabar com a Revolução. Também é
honesto reconhecer que nos anos de bonança aprendemos a desperdiçar e
não foi pouco o grau de idealismo e de sonhos que acompanharam nosso
heróico processo. Os grandes rendimentos agrícolas dos Estados Unidos
da América se conseguiram mediante a rotação das gramíneas (milho,
trigo, aveia e outros grãos similares) com as leguminosas (a soja,
alfafa, feijões, etc.) Estas dão nitrogênio e matéria orgânica aos
solos. O rendimento do milho nos Estados Unidos da América no ano
2005, segundo os dados da Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e a Alimentação (FAO), alcançou 9,3 toneladas por hectare.
No Brasil só se produzem três toneladas desse grão na mesma área de
terra. A produção total contabilizada desse país irmão foi esse ano de
trinta e quatro milhões seiscentas mil toneladas, consumido
internamente como alimento. Não pode fornecer milho ao mercado
mundial. O preço desse grão, alimento principal de numerosos países da
área, quase se duplicou. O que aconteceria quando centos de milhões
de toneladas de milho sejam dedicados à produção de biocombustível? E
não mencionarei as quantidades de trigo, milho, aveia, cevada, sorgo e
outros cereais que os países industrializados usariam como fonte de
combustível para seus motores. Sem contar que é muito difícil para o
Brasil levar a efeito a rotação do milho com leguminosas. Dos estados
brasileiros que o produzem tradicionalmente, oito deles são
responsáveis de noventa por cento da produção: Paraná, Minas Gerais,
São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato
Grosso do Sul. Por outro lado, 60 por cento da produção de
cana-de-açúcar, uma gramínea que não pode rotar-se em outras culturas,
se realiza em quatro estados: São Paulo, Paraná, Pernambuco e Alagoas.
Os motores de tratores, máquinas para colheitas e os meios pesados de
transporte para mecanizar a colheita, gastariam hidrocarbonetos em
quantidades crescentes. O acréscimo da mecanização nada ajudaria para
evitar o aquecimento do planeta algo que está verificado por
especialistas que medem a temperatura anualmente desde há mais de 150
anos. O Brasil sim produz um excelente alimento especialmente rico em
proteínas, a soja: 50,115 000 toneladas. Consome quase 23 milhões de
toneladas e exporta 27,300 000. Será que uma parte importante dessa
soja vai se transformar em biocombustível? Em breve os produtores de
carne bovina começarão a se queixar que os terrenos semeados de pastos
estão se transformando em canaviais. O antigo Ministro da Agricultura
do Brasil, Roberto Rodrigues, importante defensor da atual linha
governamental, hoje co-presidente do Conselho Interamericano do Etanol,
criado em 2006 a partir de um acordo com o estado da Flórida e o Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a promoção do uso do
biocombustível no continente americano, declarou que o programa de
mecanização da colheita da cana não gera mais emprego, pelo contrario
pode produzir um excedente de pessoal não qualificado. É sabido que os
trabalhadores mais pobres provenientes dos diversos estados são os que
vão para o corte da cana por máxima necessidade. Às vezes são pessoas
que têm de se afastar das suas famílias por meses. Era o que acontecia
em Cuba até o triunfo da Revolução, quando o corte e o carregamento da
cana era a mão e apenas existia a plantação e a transportação
mecanizada. Ao desaparecer o brutal sistema imposto a nossa sociedade,
os cortadores alfabetizados em massa, abandonaram sua peregrinação em
poucos anos e foi necessário substituí-los com centenas de milhares de
trabalhadores voluntários. Aliás, podemos acrescentar a isso, o último
relatório das Nações Unidas sobre a mudança climática, ao afirmar o que
acontecerá na América do Sul com a água dos glaciais e a bacia do
Amazonas na medida em que aumentar a temperatura da atmosfera. Nada
impede que o capital norte-americano e europeu financie a produção de
biocombustíveis, que até poderiam presentear fundos ao Brasil e à
América Latina. Os Estados Unidos, Europa e outros países
industrializados poupariam mais de 140 bilhões de dólares ao ano, sem
se preocuparem das conseqüências climáticas e da fome que afetariam,
em primeiro lugar os países do Terceiro Mundo. Sempre ficariam com
dinheiro para o biocombustível e para adquirirem a qualquer preço os
poucos alimentos disponíveis no mercado mundial. O que se impõe de
imediato é uma revolução energética que consiste nem só na substituição
de todas as lâmpadas incandescentes senão também a reciclagem em massa
de todos os eletrodomésticos comerciais, industriais, transporte e de
uso social que com as tecnologias anteriores precisam dois e três
vezes mais energia. Dói pensar que a cada ano são consumidos 10
bilhões de toneladas de combustível fóssil o que significa que cada
ano se dissipa o que a natureza demorou um milhão de anos em criar. As
indústrias nacionais têm pela frente enormes tarefas, para com isto
aumentar o emprego. Assim poderia ganhar-se um pouco de tempo. Outro
risco de tipo diferente que corre o Mundo é a recessão econômica nos
Estados Unidos. Nos últimos dias os dólares quebraram o recorde em
perda de valor. A maior parte das reservas em moedas conversíveis de
todos os países está constituída por essa moeda de papel e os bônus
norte-americanos. Amanhã 1º de Maio é um bom dia para oferecer estas
reflexões aos trabalhadores e a todos os pobres do mundo, junto com o
protesto contra algo também incrível e humilhante: a Libertação de um
monstro do terrorismo, justamente ao completar o 46º aniversário da
Vitória Revolucionária em "Praia Girón" (Baía dos Porcos). Prisão para
o algoz!
Liberdade para os Cinco Heróis!
Fidel Castro Ruz
30 de Abril de 2007